Você é mais dependente da inteligência artificial do que imagina

Você é mais dependente da inteligência artificial do que imagina

Em um dia normal, algumas pessoas acordam com o despertador do celular, destravam o aparelho com reconhecimento facial, usam um assistente residencial (como exemplo, a Alexa) e ligam a Smart TV; entram em seus carros e usam algum aplicativo de rotas (exemplo, o Waze) para chegar a seu destino. Se vão às compras, agradecem a “modernidade” dos caixas, que usam um software para controle de estoque dos produtos, agilizando todo o processo. Ainda, cruzam com câmeras de vigilância espalhadas pela cidade e com painéis digitais de propaganda. Existem também aqueles que aproveitam para visitar um museu, em outro país, pelo computador.

Se você usa algumas dessas tecnologias, ou outras parecidas, pode acreditar: você é cliente da inteligência artificial. E eu aposto que você está bem feliz com isso, pois é sinônimo de praticidade.

A inteligência artificial (IA) é um avanço tecnológico que permite que sistemas simulem uma inteligência similar à humana. As máquinas são alimentadas com dados digitais, e aprendem a combinar comportamentos, identificar padrões e tomar decisões, como o Waze, exemplo já citado. O app funciona com GPS sim, mas as rotas são sugeridas conforme o comportamento dos usuários, que alimentam essa tecnologia com informações do trânsito, com situações que aparecem em seu caminho (como carros parados na pista, acidentes, buracos na estrada, alagamento e outros).

Contudo, nem todas as pessoas percebem o quanto a sociedade está imersa na IA. Por isso, quando chegou um robozinho chamado ChatGPT, capaz de escrever um texto perfeito em minutos, muitas acreditaram que era a inovação mais extraordinária da história; alguns acreditam que somente isso é fruto de IA. Vou te contar um segredo: você contribuiu com a criação dessa ferramenta. A menos que nunca tenha estado na grande rede, na web.

Isso mesmo! A OpenAi, empresa que criou o ChatGPT, treinou essa inteligência artificial com 300 bilhões de palavras obtidas da internet, incluindo livros, artigos, sites e postagens, e mais de 8 milhões de documentos. E quem é que coloca tudo isso na internet? Todos nós, né!

O ChatGPT é um chatbot, um robô feito para conversar com seres humanos, que “imita” o pensamento humano. Funciona a partir de um modelo de linguagem que calcula a probabilidade em sequência de palavras. E ao calcular essas probabilidades de associações, é capaz de gerar textos que imitam aqueles produzidos por humanos. Porque “imita”, entende-se que não é perfeito, por isso, é importante checar as informações em fontes confiáveis. Significa que a curadoria, a seleção, o filtro de informações úteis e inúteis, boas e ruins, confiáveis ou falsas, ainda continua sendo papel do humano atrás da máquina. Tal como no Waze; se você não concorda com a rota sugerida, não precisa seguí-la. Como também não precisa acreditar em tudo o que a Alexa fala, e nem ser influenciado por todos os painéis de Led espalhados pela cidade.

Na Educação, vemos a inteligência artificial nos jogos, programas de computador, aplicativos de segurança, robótica, no uso de plataformas adaptativas que criam trilhas individuais de aprendizado e na geração de relatórios com o rendimento dos alunos.

Isso quer dizer que a escola não tem mais função, que pode confiar cegamente nos relatórios gerados pela máquina? É óbvio que não! Quem conhece o aluno é o professor. Os dados podem trazer “luz” ao planejamento, mas olhar para a pessoa ali na sala de aula, seu comportamento e linha de aprendizagem, nenhuma máquina conseguirá fazer.

Estamos diante de ferramentas que auxiliam nossas ações no dia a dia, sejam quais forem as nossas necessidades. Contudo, não podemos deixar que essas tecnologias tomem conta de nossas vidas. A era da educação midiática, do letramento digital está aqui faz tempo e também faz tempo que nos reunimos em congressos, frequentamos palestras, ouvimos brilhantes explicações de vendedores de tecnologia exaltando o quanto precisamos dessa ou daquela solução para criar um ambiente inovador e desruptivo. Despejam em nós termos e palavras bonitas, projetos robóticos e tecnológicos, como urgentes e necessários. A pulga atrás da orelha fica numa simples pergunta: será?

Vou deixar aqui dois termos bonitos, repletos de significados: Infodemia (excesso de informação) e FOMO (Fear of missing out = medo de ficar de fora). Termos que se complementam: muita informação e medo de ficar desatualizado e perder todas essas informações.

Nesse momento, é importante conhecer o que estamos usando e avaliar se realmente precisamos de tudo isso. Pois você já deve ter ouvido: o feijão com o arroz é o que resolve. Então, me conte: você consegue identificar se precisa de uma feijoada ou somente de mais tempero no feijão?

Você é mais dependente da inteligência artificial do que imagina
Talita Moretto

Jornalista e pedagoga especializada em educação, mídias e tecnologias.

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